O que aconteceria se as estradas não tivessem limites de velocidade? Ou se países não tivessem fronteiras? Se as ruas não tivessem sinalizações? Se  as casas não tivessem portas? Limites, como o próprio nome diz, são os extremos, são as marcas que indicam começos e finais.

Eles estão relacionados diretamente ao conjunto de regras e normas sociais que possibilitam um convívio harmônico entre as pessoas. Leis, por exemplo, formam o conjunto máximo dos limites da maioria das sociedades contemporâneas.

Apesar de organizarem nossa vida, os limites não são à prova de erros e podem ser mudados e revistos quando forem entendidos como injustos, arbitrários ou mesmo desatualizados.

Na maioria das vezes, limites nascem de costumes já absorvidos e incorporados por determinado grupo social, como o uso das roupas, por exemplo. É um costume social já incorporado nas sociedades seculares ocidentais e não é algo que costuma ser questionado. Por outro lado, por exemplo, as mulheres não podiam votar nas eleições democráticas brasileiras até o ano de 1932. Esse era um limite imposto a elas que foi revisto, analisado, entendido como injusto e, por fim, modificado.

Observe a trajetória de profissionais bem sucedidos, analise o contexto de vida das pessoas que você percebe como satisfeitas com as suas vidas e ficará fácil ver que ali há uma aceitação consciente de limites que se configuram como cuidados. O atleta não come só o que quer, o bom músico não ensaia apenas quando tem vontade. Nestes, e em muitos outros casos, o limite organiza o dia-a-dia e enriquece o desenvolvimento.

O mesmo raciocínio vale na educação dos filhos. Quando puder, explique claramente o motivo das normas, leis ou combinados. Comente dos benefícios de cada um poder sacrificar um pouco dos seus desejos imediatos para que se obtenha o bem comum, mas não espere que seus filhos entendam ou mesmo que se sintam felizes por terem que cumprir certos limites ou combinados. Mantenha a tranquilidade e assertividade em relação a isso.

Não é tarefa dos pais fazer os filhos felizes. Seu papel é oferecer amor, segurança e uma boa educação. A verdadeira felicidade vem de dentro para fora e está relacionada ao nosso caráter e às virtudes que praticamos. Martin Seligman, em seu livro “Felicidade Autêntica”1, aponta que o caminho para uma vida boa passa pelo desenvolvimento de forças morais tais como o saber e o conhecimento, a moderação, a transcendência, a coragem e a humanidade. Para exercitar nossa “musculatura” mental, precisamos ser capazes de abrir mão de parte de nosso egoísmo e de nosso imediatismo. Isso se treina em casa, desde cedo.

Com clareza sobre o seu papel e tendo em mente que o aprendizado sobre limites pode edificar nossa vida, antes do “sim” e do “não”, procure investigar sua intenção. Se o que lhe move é ensinar seus filhos sobre como obter uma vida boa, já está no caminho certo.

Leo Fraiman

SELIGMAN, Martin. Felicidade autêntica. São Paulo: Objetiva, 2004.