É bonito e fascinante observar um bebê aprendendo a andar. Quando começa a ter um pouco mais de firmeza em seu corpo, algum domínio sobre sua musculatura e seu equilíbrio, a criancinha pega gosto por explorar o ambiente e, confiante, conhece o mundo. Vai aos poucos ganhando a sua autonomia e descobrindo a vida, as relações, os objetos, os tecidos, os gostos e os aromas, um processo mágico.

Com o desenvolvimento da autonomia emocional, o processo deveria ser o mesmo, só que no caso, precisamos primeiro olhar para as condições que nós adultos oferecemos para que crianças e jovens possam crescer em direção à autonomia.

Vamos então primeiro defini-la: autonomia significa o governo de dentro para fora das nossas decisões e atitudes. O oposto dela, a heteronomia, significa aquela atitude de pôr o cinto de segurança quando tem alguém vendo, colar na prova quando não há o risco de ser pego, pagar a conta em dia apenas para evitar a multa. Esse tipo de ação voltada apenas a evitar problemas significa uma posição reativa, ou seja, eu não faço bem o certo, não me movo em direção ao justo, porque me falta autonomia moral.

Autonomia moral significa escolhermos conscientemente o bem comum sobre o individualismo. Significa a cordialidade acima da brutalidade ou da indiferença, a ética acima do narcisismo ou do imediatismo. Autonomia como atitude geral diante da vida é tão importante quanto, afinal de contas se criamos alunos ou filhos mimados, superprotegidos, amedrontados ou acomodados, que chance eles terão diante das muitas provas que com certeza vão enfrentar?

Na vida de todos nós os desafios tendem a ser, a cada ano, maiores, mais complexos, mais inquietantes e exigirão, cada vez mais, esta atitude de autonomia.

É ela que serve como ponto de partida para a proatividade que, em seu limite, culmina na atitude empreendedora, na qual nós somos responsáveis pelo nosso destino e conseguimos atingir a automotivação, a auto eficácia, a autoestima como decorrência de uma atitude geral diante da vida. Isso significa nos colocarmos mais em busca de soluções do que de problemas, de possibilidades do que de limites. Aprendemos com os nossos erros e levamos para o futuro, na mochila da vida, as lições, não as mágoas, os aprendizados, não os ressentimentos, as possibilidades, não os medos!

Existem alguns passos para a autonomia. Eles são praticados por meio da disciplina, que é aquela habilidade de fazer o que tem que ser feito e não só o que queremos; por meio da empatia, que significa a percepção de que os desejos, sentimentos, crenças, valores e significados dos outros são tão importantes, tão valiosos, tão preciosos quanto os nossos; pela compaixão, que significa uma abertura para a percepção de que todos, realmente todos os seres humanos têm suas dores, têm suas perdas, têm seus medos e diante disso nós podemos sempre fazer algo, mesmo que seja apenas estar ao lado.

Um outro passo importante, já mencionado aqui, é a proatividade, ou seja, anteciparmos necessidades e ações e não fazermos as coisas apenas de véspera, de forma medíocre, superficial, apostando na mesmice ou sem buscar o verdadeiro brilho. Pois, quão ético seria um médico que não se atualiza, quão ético seria um músico que toca de qualquer jeito, quão ético seria um jogador que bate o pênalti sem se importar?

Uma das grandes distinções entre nós e outros seres vivos do planeta é ser escolhedor. O Ser humano que tem uma autonomia ética escolhe viver para o bem, escolhe ser uma pessoa madura e autônoma que significa abandonar a ilusão egoísta, narcisista e tão perigosa de que nós podemos fazer apenas aquilo que queremos, se queremos e quando queremos.

Estas são temáticas caras à Metodologia OPEE e perpassam todas as nossas atividades, afinal de contas, como construir um projeto de vida, com vida e para a vida sem praticarmos a adoção de um propósito constituído e reafirmado todos os dias de nos aproximarmos, pouco a pouco, passo a passo, da melhor versão de nós mesmos? É desta autonomia que estamos falando!

De uma autonomia que nos eleva diante da vida, para que com a cabeça erguida possamos encontrar um horizonte melhor chamado “vida boa”.

Texto: Leo Fraiman