A palavra “adolescência” vem do latim adolescere, que significa “crescer”. Compreender essa etapa de crescimento é um desafio de longa data e embora existam divergências conceituais e abordagens distintas sobre esta fase da vida, hoje temos consolidada a ideia de adolescência como fase de transição da infância para a idade adulta, ou seja, o crescimento que leva à maturidade.
Como sabemos, é no meio familiar que nos constituímos como indivíduos e é nesse meio que vamos formando nossos valores e concepções sobre o mundo, a vida, o trabalho, as profissões etc. As relações e interações que se estabelecem são essenciais para despertar ou não interesse por determinados temas e questões. Assim, as expectativas e desejos que os pais depositam sobre os filhos desde sua concepção, sem dúvida terão algum impacto na subjetividade dos filhos, ainda que não seja algo explícito.
De geração em geração, mensagens, projetos, valores, crenças e ideologias são transmitidas pelas pessoas que convivem conosco. Há inclusive estudos que analisam o impacto das transmissões multigeracionais e também os mitos familiares.
O fato é que durante a adolescência, muitas famílias relatam não reconhecer mais seus filhos, ou notar que estão diferentes, se transformando. A comunicação também é outro aspecto que é alvo de mudanças e possíveis dificuldades. Soma-se a isso o fato de que vivemos em uma sociedade marcada pela instabilidade e com poucas referências claras que a todo o momento podem ser modificadas ou desconstruídas. Isso tudo pode contribuir para a apatia e o afastamento das pessoas no âmbito familiar.
A participação contínua e efetiva é uma postura muito eficaz durante o desenvolvimento dos filhos. Não negligenciar questões importantes e não ser permissivo com aquilo que fere os princípios e valores da família é essencial para que os filhos se inspirem nos adultos da casa e saibam que a palavra e o compromisso têm valor. Para que a presença com qualidade se estabeleça é preciso tempo. Muitos acreditam que o tempo dispendido com os filhos deve ser de qualidade, mesmo que em quantidade seja reduzido. Isso pode ser um autoengano, uma vez que apenas a quantidade de convívio é que traz sutilezas e interações de qualidade. Dificilmente estabelecemos intimidade, proximidade, cumplicidade, confiança e relações afetivas de qualidade com pouco tempo de dedicação e interação. Isso se aplica a todas as relações que consolidamos: familiares, conjugais, sociais.
Para quem vive em centros urbanos principalmente, o tempo parece ser cada vez mais difícil de ser administrado. Vivemos dividindo nosso tempo e atenção com diversos fatores, tais como artefatos tecnológicos (principalmente celulares, ipads, entre outros), o trabalho, o tempo de deslocamento entre os lugares, família, compromissos, notícias e um sem fim de coisas. Dedicar o precioso tempo para o convívio presencial com os filhos é extremamente importante para acompanhar o desenvolvimento deles, para participar de momentos importantes, para estar acessível para auxiliar no enfrentamento adequado de situações complexas e difíceis e para promover momentos de bem-estar conjunto e momentos significativos.
Se o aprendizado emocional de todos nós é construído ao longo da vida, na relação consigo mesmo e com os outros, todas as relações significativas entre pais e filhos contribuem enormemente para o desenvolvimento emocional dos filhos. Mais do que isso, contribui também para a construção de um tecido de relações que permita lidar de maneira saudável e construtiva com os conflitos que naturalmente emergem do convívio e também com possíveis situações de crise, dor, adversidades, bloqueios e até disfunções.
Na adolescência, assim como em todas as fases da vida, reveses e dissabores precisarão ser enfrentados. Uma vez que não é possível controlar ou blindar suas vidas, poder contar com pais que são firmes, mas não autoritários, que são carinhosos e gentis, mas não permissivos, que são participativos, mas não controladores, que são exigentes, mas não perfeccionistas, que reconhecem e validam o esforço, mas que não querem saber apenas de resultados, que reconhecem sua humanidade e de seus filhos, mas que não passam a mão na cabeça, tudo isso, pode ser muito benéfico, tranquilizador e até mesmo fator de proteção. Todas essas posturas são o grande desafio da convivência. Ter consciência das mesmas e buscar praticá-las como um exercício e aprendizado diário já é uma grande conquista!
Texto: Mariana Gonçalo | Foto: Pixabay
Metodologia OPEE