As pessoas estão se sentindo mais culpadas a cada dia – pela falta de tempo, por não conseguirem se manter atualizadas, por fazerem uma escolha no lugar de outras tantas… Enfim, as questões são muitas. Mas afinal, o que é a culpa? É um sentimento que está ligado à responsabilidade. As pessoas costumam se sentir culpadas quando causam um dano, seja ele físico, psicológico, material ou moral, a outro ser vivo ou ao ambiente.
É cada vez mais frequente que pais, no papel de educadores, sintam essa questão da responsabilidade em grande parte das questões da vida dos filhos. Precisam tomar decisões importantes, como as relacionadas à saúde, educação e segurança. E, quando não existe tempo, dedicação, interesse ou outros fatores nesse processo educacional, muitos sentem-se culpados, o que pode causar dois resultados distintos: a culpa descabida e a culpa sinalizadora.
A culpa descabida é movida pela tentativa de compensar, por exemplo, a falta de presença com presentes, ou a falta de respeito dos filhos com gritaria – o que provoca ansiedade, estresse e ainda mais danos àquilo que já está desgastado. Essa situação de atrito também gera dificuldade ao estabelecer limites e ao precisar dizer “não”, pois grande parte das famílias não quer punir nem frustrar.
Segundo o livro “Reclaiming Conversation” (“Reivindicando o Diálogo”, em tradução livre; 2015), de Sherry Turkle, os adultos norte-americanos consultam seus telefones celulares a cada seis minutos e meio. No Brasil, é possível estender esse dado para o contexto nacional através da percepção do cotidiano e deixar aqui a questão: que tal se todos se dedicassem um pouco menos para a manutenção das relações virtuais e mais para o que está ao lado e que muitas vezes não é percebido?
A culpa sinalizadora, por sua vez, funciona como a luz amarela de um semáforo, pedindo atenção. Ela indica atitudes que elevam, que geram valor ou que preservam os combinados, servindo como um elástico que traz de volta ao eixo. Pode motivar a tomada de atitudes para reverter a situação de distanciamento, justamente fazendo com que os pais voltem a demonstrar interesse, busquem participar e mantenham uma postura de apoio e motivação em relação aos filhos.
Além da responsabilidade, a culpa se relaciona com a consciência e com o caráter e costuma ser maior e mais dolorida quando os valores pessoais são negligenciados. Para aliviar um pouco seu excesso, é preciso saber que, em um mundo com uma quantidade inacreditável de informações conflitantes sobre “como educar”, é impossível ser perfeito.
Em educação, é raro que haja consenso sobre o que fazer ou como determinado ensinamento deve ser transmitido. Aceitar isso e transmitir essa postura para os filhos pode ser libertador. Assim, é possível seguir buscando sempre fazer o melhor, entendendo que nem tudo sempre vai acontecer como o planejado – e aprendendo com essas experiências.
Leo Fraiman